11 diciembre 2006

Castidade: Rasgar Fronteiras


Castidade

Nenhuma urgência é hoje tão definitiva como reaprender o Amor.
Reaprender a tocar sem ferir,
saber de novo os abraços que não prendem e o olhar que não mancha.

O nosso corpo anseia por espaços de repouso,
onde a luz e o silêncio nos ensinem o seu ritmo,
onde a poesia e a arte nos segredem, serenamente, a beleza.

Nada é tão urgente como a Liberdade
Nada é tão urgente como o Amor.

(Lisboa, Dezembro de 05)

Não gosto de explicar o que escrevo. É como me obrigarem a contar um segredo, é como pedirem a um mágico que explique o seu truque.
Mas arrisco hoje, recordar um texto que escrevi há um ano para partilhar o modo como olho para a castidade.
Desde que entrei na Companhia de Jesus que procuro viver este voto de Amar.
Amar? O que é que a castidade tem a ver com o Amor? Tudo... Se não fosse expressão do Amor, não passava de um ascetismo sem sentido..
A Castidade não é uma fronteira.
A Castidade é alargar os horizontes do coração, para que ninguém se sinta a mais na minha vida. É saber entregar a Deus os meus braços, os meus pés, os meus gestos e o meu corpo. É querer que Ele toque o mundo nos meus dedos, sinta a terra nas minhas mãos. É estar perto, muito perto e abraçar sem prender.
É estar longe, mesmo longe, e deixar partir.
É parar e descansar:
«Não foram estes os Teus passos?»

A castidade não é uma negação da sexualidade humana.
Sou homem em cada um dos meus caminhos, é assim que respiro o mundo.
É assim que sou amigo, é assim que contemplo no meu olhar toda a beleza humana, toda a beleza do mundo. É assim que Deus me cria.
Sou um homem chamado a gritar o único Amor.

Se tenho medo? Sim, às vezes tenho medo de ferir, às vezes fico tempo de mais onde não estou. Sou frágil, muito frágil, quase a quebrar-me.
É nessa fragilidade que Deus se insinua, é aí que Ele me diz:
«Não tenhas medo de te perder por Amor. Eu estarei sempre contigo!...»

9 comentarios:

Anónimo dijo...

Poético e substancial! Muito obrigado!

Francisco Machado, sj dijo...

O comentário anterior era meu. Gostei muito do texto.

Marco Cunha, sj dijo...

Obrigado Zé Maria por partilhares este texto connosco!
... é mesmo na experiência da fragilidade que experimentamos a mão de Deus que nos segura e ampara...

...obrigado

J dijo...

Zé Maria,

o seu texto tocou-me muito, obrigado pela sua partilha que me fez rezar pelas vocações.

Beijinhos

Anónimo dijo...

Maravilha...
Aliás, Maravilhas faz em ti o Senhor
E vesse que cantas de gozo!

Grande Abraço

Anónimo dijo...

obrigado a todos pelos comentários e pela amizade.
J:acho que já nos conheços há algum tempo na Blogosfera para termos um tratamento informal.
poemos tratar-nos por tu. não?
obrigado pela leitura frequente

Nuno Branco, sj dijo...

obrigado zé maria por este teu artigo. É optimo recordar estes lados escondidos da propria castidade. Ajudaste-me a rezar e agradecê-la. É uma dimensão que precisa sempre de afinação.
Um abraço grande

António Valério,sj dijo...

Acertaste no meu caminho! Já me tinhas falado deste texto, foi uma oração muito entregue a partir do que escreves. Acaba por ser bastante linear, por caminhos que às vezes são custosos, mas, de facto, uma entrega não tem nada a ver com privação. Obrigado! =)

Patricia Assmann Torres da Silva Mello dijo...

Amigo,tomei a liberdade de publicar este seu artigo tão belo e verdadeiro em meu blog. Você está de parabéns pela coragem de ser diferente, e mais igual ao nosso Deus. Abraços! Meu blog:
http://castidadeliberdade.blogspot.com/